quinta-feira, 29 de maio de 2008

AMPROPOA

Era cinco da tarde de 2003. O vento frio do outono já estava levantando folhas caídas das árvores. Numa sala sem placas em um prédio de endereço obscuro, umas 16 mulheres esperavam pelo começo, todas caladas e com olhar baixo. Finalmente a presidente levantou-se, foi ao microfone e falou:

-Boa tarde. Declaro aberta mais uma sessão da AMPROPOA. Estou vendo novas pessoas entre nós. Alguém gostaria de vir se apresentar para o grupo?

Levantei a mão correndo (não aguentava mais de ansiedade) e fui ao microfone:

-Oi. Meu nome é Flavia Fiorillo e eu sou uma mãe que procura pelo em ovo.
-Olá Flavia.-Foi a resposta em coro.

Todos aplaudiram e depois que contei minha terrível saga até chegar até lá, cedi a vez para outras 4 mães que, como eu, resolveram que era hora de tomar rédeas da própria vida.
O processo para a cura foi penoso e a duração interminável. Passei pelos 12 estágios e hoje digo com orgulho de estou clean por mais de 3 anos. Não precisei mais voltar à sede da Associação das Mães que PROcuram Pelo em Ovo Anônimas.
Sabem aquele tipo de mulher que fica tirando a temperatura do filho a cada 23 minutos quando ela acha que deve estar subindo para 36,8ºC e depois de 2 horas sem mudança (na temperatura que não subiu) liga assim mesmo para o pediatra desesperada porque tem certeza de que tem alguma coisa errada? Aquela que entra no quarto do bebê que está dormindo tranquilamente a cada 18 minutos para ver se ele está respirando? Aquela mãe que exige que o amiguinho de 3 anos da classe do filho seja expulso da escolinha só porque ele mordeu seu filho e fica na orelha da diretora por semanas, dia sim, dia sim? Pois é. Meu caso não era assim tão extremo, isso para mim seria o equivalente e enxugar uma garrafa de tequila e outra de gim enquanto eu bebo socialmente.
OK, isto está longe de ser desculpa pois não deixamos de ser todas doentes, só varia o grau. Assumo que fui um dia obcecada (no pior sentido da palavra) com coisas que não tem a menor importância, não importa como as veja. Foi um período em que eu ficava exausta, tanto fisica como mentalmente. Não sobrava tempo para nada. O Tico e o Teco quase pediram demissão, alegando que isso não estava na descrição de tarefas deles quando foram contratados.
Não tenho vergonha. Passou.
Tenho certeza que você também achou ou está próxima de achar o seu equilíbrio e vai deixar a vida de seu filho em paz, mesmo que ele queira colocar um pé da sandália havaiana de Super-Man e o outro do Macqueen para ir se encher de germes comendo a areia da pracinha com o melhor amiguinho dele que nem por isso insiste em morde-lo o tempo todo.

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